| Revista Arbil nº 63 | A Nova Ordem Internacional: Contributos para a sua análise por J. Luís Andrade É óbvio que a tradicional e linear dicotomia esquerda-direita começa a dar lugar a um referencial menos reducionista, em que os eixos permitem definir melhor os posicionamentos políticos e filosóficos face a critérios como individualismo-colectivismo, internacionalismo-nacionalismo ou materialismo-espiritualismo
| Como condição prévia para esculpir uma Nova Ordem Mundial sem fronteiras, os internacionalistas Senhores do Mundo têm procurado, a todo o transe, desagregar e pulverizar os poderes multinacionais, paradoxalmente em nome do direito dos povos à Nacionalidade. Essa contradição, bem escamoteada pelos interesses dos contendores da Guerra Fria, resultou numa irreflectida onda de descolonizações que está, seguramente, na origem da profunda desestabilização que, de maneira trágica, tanto afecta os chamados países do terceiro mundo. Impuseram-se artificialmente Nações em espaços e a povos sem qualquer património identitário comum. Nem a melhor das boas vontades permite esconder o facto de que a genuína revolta individual contra um poder colonial arbitrário e paternalista nada tem que ver com os levantamentos nacionalistas que na Europa haviam ocorrido no século anterior. Com uma arrogância irresponsável, fruto da mais profunda ignorância e do mais intolerante preconceito ideológico, inventaram-se caricaturas de Estado, desprezando a verdadeira natureza da Nação como comunidade de destino colectivo, sedimentada e coesa. Um neo-monroenismo, agora ditado pela confrontação entre os Poderes Mundiais, votou à miséria, ao extermínio e à servidão um número incalculável de povos a quem, em nome dos mais elevados interesses da Humanidade, havia sido outorgada a Liberdade. Mas cedo essa Liberdade abstracta se viu substituída pela falta de liberdades concretas e, de uma forma geral, o caos se instalou de forma inequívoca. Dessa conflitualidade permanente e da débacle do Bloco Soviético respingam continuamente fluxos de populações em busca de uma vida melhor ou pelo menos da esperança de sobreviver. A sua entrada incontrolada nos espaços tradicionalmente mais abertos e deficitários de mão-de-obra, como é o caso dos países da dita Comunidade Europeia, arrasta todo um conjunto de novos problemas que, directa ou indirectamente, afectam a segurança global das populações. Quase sempre o insucesso na inserção no tecido social dessas sociedades leva à marginalidade e, por vezes, quando as comunidades expatriadas são significativas, à auto-exclusão. Esta evolui, com facilidade, para a ghettização, com toda a conhecida panóplia de comportamentos e atitudes reactivas que fazem gala em buscar noutras sub-culturas marginais inspiração e energia. Embora na acção e participação político-partidárias as questões de natureza ideológica se tenham esbatido, perdendo terreno para a acéfala agregação clubista ou para a oportunística gestão dos interesses particulares, na esfera cultural que condiciona as matrizes do pensamento político, o seu lugar é cada vez mais importante, mesmo que seja percebido como menos aparente. É óbvio que a tradicional e linear dicotomia esquerda-direita começa a dar lugar a um referencial menos reducionista, em que os eixos permitem definir melhor os posicionamentos políticos e filosóficos face a critérios como individualismo-colectivismo, internacionalismo-nacionalismo ou materialismo-espiritualismo. Apesar destas complexas dimensões, há, na realidade, duas weltanschauung ou mundovisões base que há muito se digladiam. O Papa Leão XIII na sua Encíclica Quod graviora cita Santo Agostinho quanto a essa questão que aparece sintetizada nas duas cidades, opostas uma à outra. A cidade terrestre procede do amor de si até ao desprezo por Deus enquanto que a cidade celeste procede do amor de Deus até ao desprezo por si mesma. Entendem uns que o papel do Homem é ser senhor do seu próprio destino, de modo a contribuir para oferecer à humanidade o bem estar físico através da conquista do mundo material, sem necessidade de qualquer força, anseio ou poder espiritual, no que reputam de obscurantismo. Recusam aceitar a interferência da fé e do sobrenatural pretendendo demonstrar tudo através da razão. Outros concebem os humanos como filhos de Deus, abandonados à gestão do mundo material, em que se devem guiar pelo amor ao próximo e a si mesmos, praticando as virtudes espirituais da fé, da esperança e da caridade. Acreditam numa dimensão sagrada da vida pelo que, para eles, os outros fundam a sua lógica numa admiração egoísta pelo Eu pessoal; mesmo que entre eles existam almas generosas, a maioria apenas espera obter benefícios pessoais, trabalhando por apetite à recompensa terrena. No desenrolar desse conflito permanente, a Igreja Católica foi especialmente fustigada e causticada, mormente nos últimos séculos. A semente dessa perseguição pode encontrar-se já nos próprios movimentos da Reforma pós-humanista, no século XVI. Por permanente radicalização e refinamento, as ideias por eles engendradas vieram a incubar no século XVII, germinaram no século XVIII, desenvolveram-se no XIX, atingindo, finalmente, a maturação no século XX. Hoje, é notório que alguns sectores da Igreja, no remanso aparentemente protegido das sociedades do pós-guerra, rapidamente perdoaram e esqueceram as depredações, as humilhações e os seus mártires. Prenhes de benevolência e de misericórdia, de convencimento de conversão e de tolerância, trataram mesmo de proteger e acoitar os seus perseguidores de outrora. Talvez tenha contribuído também para isso a eterna tentação de abraçar o Filho Pródigo que leva a que, por vezes, se honre e acarinhe mais o inimigo de Deus que o próprio crente. No entanto, superando essas inclinações parciais, a portentosa figura de João Paulo II tem procurado sobrepor-se às tentações positivistas e de pretenso aggiornamento de alguma hierarquia eclesiástica demonstrando, pelo exemplo, pela abnegação e pela humildade, o caminho para a Concórdia, a Justiça e a Paz no Mundo. No meio dessa agitada dinâmica de afirmação espiritual, importa, contudo, não perder de vista a acção pró-internacionalista de grupos religiosos, católicos, islâmicos, etc., que, demasiado embrenhados na sua militância, esquecem facilmente as referências axiais pátrias. Com a obediência interna a sobrepor-se à humildade, a auto-estima à caridade e a sobranceria à piedade transformam-se rapidamente em grupos virados para si próprios, de confrangedora atracção centrípeta, uniformizadora e tendencialmente auto-sustentada. Manifestam preocupação pelos Outro, em abstracto, ignorando ou passando ao lado no que diz respeito ao amor ao Próximo, concreto e imediato. Com um tipo de caracterização que faz lembrar as seitas, e onde não falta por regra um guru, confundem abstrusamente os planos do religioso e do político, manifestando tendência para um comportamento que poderíamos designar por autismo social. E, como sempre acontece nestas organizações, os neófitos são os mais atentos zelotas quais cães de guarda que auxiliam o pastor na condução do rebanho. O seu caminho é considerado o mais válido quando não o único para atingir a pertença ao Povo universal. Para eles, toda a realidade e construção colectiva da Nação está abaixo do internacionalismo religioso a que importa obedecer em nome de Deus. Afirmam que a Nação é História enquanto que Deus é Eterno e, como tal, a escolha e hierarquização das relações de pertença são fáceis de definir. São versões modernas das muitas falácias teocráticas que ao longo dos tempos foram surgindo e que se esquecem amiúde do significado da expressão a César o que é de César... ·- ·-· -··· ·· ·-·· J. Luís Andrade. | | Revista Arbil nº 63 La página arbil.tk quiere ser un instrumento para el servicio de la dignidad del hombre fruto de su transcendencia y filiación divina "ARBIL, Anotaciones de Pensamiento y Crítica", es editado por el Foro Arbil La reproducción total o parcial de estos documentos esta a disposición del públicosiempre bajo los criterios de buena fe, gratuidad y citando su origen. | Foro Arbil Inscrita en el Registro Nacional de Asociaciones. N.I.F. 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